
Desde ontem circula em Washington a notícia de que Donald Trump deve suspender a aplicação da Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes e sua esposa. É possível que também devolva aos demais ministros do STF e autoridades do governo Lula seus vistos de entrada nos Estados Unidos. A informação, caso confirmada, será uma ducha de água fria para a oposição e, especialmente, para Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo.
O motivo para decisão tão radical seria a intermediação de Joesley Batista para obter a renúncia de Nicolas Maduro. Como reproduzimos mais cedo neste site, a Bloomberg noticiou que esse seria o objetivo real da viagem recente do dono da J&F a Caracas, num momento em que as autoridades americanas já alertavam para riscos de segurança em caso de voos civis no espaço aéreo venezuelano.
Segundo a agência americana, a visita foi informada à Casa Branca. Eu diria que foi combinada, não só com Trump, mas com Lula. Seria consequência da abertura de diálogo iniciada por Joesley ainda em agosto, quando se reuniu com o presidente americano no Salão Oval, tirou selfies e ainda entregou-lhe um exemplar da biografia do pai, José Batista Sobrinho.
Desde então, Trump fez elogios públicos a Lula, reuniu-se com ele na Malásia e já se falaram duas ou três vezes por telefone. Paralelamente, o chanceler Mauro Vieira criou uma regra que garante sigilo eterno em comunicações diplomáticas, impedindo que nada vaze. Não é difícil imaginar uma negociação em torno da renúncia de Maduro, com a suspensão das sanções às autoridades brasileiras.
Nota-se que até agora os EUA nada fizeram diante do desrespeito à Magnitsky por parte, inclusive, de grandes bancos por aqui. Nota-se que Trump tem tido postura vacilante em relação ao tarifaço e também sobre a política agrícola, o que certamente abriu uma janela de oportunidade para a JBS oferecer investimentos bilionários, empregos e até a promessa de baixar o preço da carne na hora certa.
Nota-se que Trump e Joesley são bilionários, tem trajetórias semelhantes e enxergam o mundo da política pela lente dos negócios. Essa ‘química’ se estende a uma visão crítica da pauta ESG e a um exacerbado pragmatismo quando o assunto é democracia e liberdade de expressão. Derrubar Maduro deve ser o suficiente, neste momento, para saciar o desejo de seus apoiadores mais ideológicos.
Contudo, com as eleições de meio de mandato se aproximando, a prioridade da Casa Branca é garantir um alívio no bolso do eleitor americano. Afinal, comer ainda é mais importante do que falar.
