
Trump fez o gesto público ao afirmar que “Lula é um bom homem”, “ótima conversa” e o Planalto apresentou como vitória diplomática, porém o norte-americano amarrou o processo a um fiador político alinhado à sua base — Marco Rubio — que mantém pressão ideológica sobre Brasília enquanto controla a porta de saída para tarifas e sanções.Hotel Brasília
A videoconferência de 30 minutos rendeu o roteiro clássico da diplomacia: elogios em público, promessa de encontro “em breve”, tom “amistoso” nas notas e linha direta de contato. O Planalto vendeu a conversa como reaproximação histórica e chance de “restaurar relações de 201 anos”. Até aí, tudo dentro do manual.
O ponto que importa não está no adjetivo, mas na arquitetura: Trump terceirizou a negociação para o secretário de Estado Marco Rubio — político com discurso duro sobre tarifas, sanções tipo Magnitsky e críticas a Alexandre de Moraes — e com trânsito direto no bolsonarismo, notadamente com Eduardo Bolsonaro. Em termos práticos, isso significa:
Gatekeeper político, não técnico: qualquer avanço passa por alguém que fala a língua do eleitorado de Trump.
Tarifas como moeda de pressão: o alívio não será puramente comercial; virá condicionado a sinais políticos que reduzam o custo de Trump junto à sua base.
Custos domésticos para o Planalto: negociar com Rubio expõe Lula a ataques da esquerda (por “ceder”) e da direita (por “não entregar”).
Por que o Planalto chamou de vitória
Faz parte do jogo. Num ambiente de tarifas de 40%-50% e sanções recentes, qualquer canal aberto já é apresentado como ganho. O problema é o preço da vitória: ela depende de um interlocutor que, por desenho, não aliviará a pressão ideológica. Mesmo com elogios, Trump manteve assimetria e controle do cronograma.
O cálculo de Trump
Mensagem à base: elogia o adversário (parece “presidencial”), mas entrega a condução a um aliado ideológico, garantindo coerência interna.
Barganha maximizada: atrela custo econômico do Brasil (tarifas) a temas sensíveis no debate local (STF, sanções, liberdade de expressão, big techs).
