
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu em conversas recentes com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que a Casa dê uma resposta à atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos. Segundo relatos de três pessoas que acompanharam os encontros no Palácio da Alvorada, Lula chegou a sugerir a cassação do mandato do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
De acordo com interlocutores, Motta ouviu em silêncio as cobranças. Lula reiterou sua indignação em mais de uma ocasião e também tratou do tema em diálogos reservados com parlamentares da base e ministros do governo. No dia 14 de agosto, em evento em Pernambuco, o petista afirmou que Eduardo está “traindo o país” e defendeu publicamente que deputados peçam a cassação do colega.
Eduardo Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal, junto com o pai, sob suspeita de obstrução da Justiça em investigações sobre a trama golpista em curso no Supremo Tribunal Federal (STF). O relatório final foi entregue ao tribunal em 15 de agosto. Desde março, o deputado está nos EUA, onde tem articulado com aliados do ex-presidente Donald Trump sanções a autoridades brasileiras.Serviços jurídicos no Brasil
O presidente da Câmara tem evitado medidas mais drásticas contra Eduardo, apesar de já ter criticado sua atuação em entrevistas. Aliados próximos afirmam que Motta prefere não tensionar ainda mais a relação com a oposição. Na semana passada, no entanto, ele encaminhou ao Conselho de Ética representações apresentadas por PT, PSOL e parlamentares da base governista contra Eduardo.
O processo seguirá o rito interno: após a instauração, o presidente do conselho sorteará três membros, entre os quais será escolhido um relator. As punições previstas vão de advertência até a cassação do mandato.
Mesmo ausente desde o fim de sua licença parlamentar, em julho, Eduardo não perderá o mandato por faltas neste ano. Pela Constituição, a análise sobre esse tipo de punição ocorre apenas no ano seguinte, o que torna possível sua cassação apenas em 2026, caso o deputado não compareça às sessões sem justificativa.
Em nota, Eduardo Bolsonaro afirmou que sua atuação nos EUA não tem relação com o processo em curso no STF e classificou como “crime absolutamente delirante” o indiciamento da PF. Também criticou o “vazamento” de conversas privadas com o pai, nas quais ele chegou a xingar o ex-presidente após ser chamado de imaturo em entrevista.
Na última semana, em Washington, Eduardo se reuniu com integrantes do governo Trump para avaliar os efeitos das sanções já impostas ao Brasil e discutir a possibilidade de ampliar punições a autoridades brasileiras.
