
No epicentro de uma nova crise institucional que combina pressões internacionais, escândalos internos e investigações parlamentares, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes reafirmou seu ‘compromisso com a atuação enérgica contra ameaças à democracia’, mesmo sob crescente desgaste político e diplomático. “Não há a menor possibilidade de recuar um milímetro”, disse ele ao The Washington Post, em referência às críticas que vem recebendo no Brasil e no exterior.Serviços jurídicos no Brasil
A declaração ocorre num momento delicado: sanções impostas pelos Estados Unidos via Lei Magnitsky, um pedido de investigação contra sua chefe de gabinete protocolado pelo Partido Novo e, agora, a formalização do requerimento para criação da CPI da Vaza Toga, liderada pelo senador Esperidião Amin (PP-SC), que promete abrir a caixa-preta da atuação do STF entre 2018 e 2024.
Inspirada em reportagens que revelaram supostos abusos na condução de inquéritos, vazamentos seletivos e atuação política de assessores, a CPI é vista como uma ameaça direta ao núcleo de poder de Moraes. Para conter os danos, o Palácio do Planalto já se mobiliza: segundo apurou a reportagem, o governo Lula quer utilizar o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para articular a composição da comissão e garantir maioria governista — uma estratégia similar à aplicada na CPI do Roubo do INSS, que blindou aliados do PT e do PDT.
Mesmo com a crescente exposição negativa, Moraes mantém influência sólida no Judiciário e no Executivo. Conta com o apoio público e operacional de nomes como o ministro Flávio Dino, o procurador-geral da República Paulo Gonet e o advogado-geral da União José Levi. Além disso, sua base dentro do STF, composta por ministros com afinidades ideológicas, assegura que suas decisões sejam referendadas com ampla maioria. Segundo o próprio Moraes, mais de 700 de seus atos foram revisados sem nenhuma reversão.
Esse apoio tem sido essencial diante do desgaste provocado pela revelação de novas mensagens na chamada “Lava Toga 2”, série de vazamentos que expõem práticas informais dentro do gabinete do ministro. O episódio mais recente levou o Partido Novo a pedir a abertura de processo administrativo disciplinar contra Cristina Yukiko Kusahara Gomes, chefe de gabinete de Moraes e ex-coordenadora da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED), órgão ligado ao TSE.
O partido alega que a AEED teria sido usada como uma espécie de “estrutura paralela de investigação criminal”, baseada em relatórios produzidos sem autorização judicial, com foco em alvos ideológicos. As acusações miram diretamente a atuação de Moraes durante os desdobramentos do 8 de janeiro, incluindo prisões e bloqueios de redes sociais.
Para aliados de Moraes, a entrevista ao Washington Post foi uma tentativa de recuperar o controle narrativo e reforçar sua imagem como ‘guardião da democracia brasileira’ diante de ataques coordenados por grupos que chamam de “internacionalização do bolsonarismo”.
Mas críticos veem na fala uma confissão de autoritarismo travestido de legalidade. “Há um padrão claro de blindagem institucional e isolamento do contraditório”, afirmou um senador da oposição à reportagem. “Essa CPI é um teste para sabermos se as instituições estão mesmo funcionando.”
Com a CPI da Vaza Toga já com assinaturas suficientes e o clima político se aquecendo, a crise agora entra no Congresso. A disputa central será sobre quem terá maioria na comissão — e se haverá espaço para uma investigação real ou apenas mais uma encenação política travada por governistas.
