
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou nesta quarta-feira (25) que a elevação da taxa Selic para 15% — o patamar mais alto desde julho de 2006 — já foi “contratada” pelo ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ainda em dezembro de 2024. Segundo Haddad em entrevista à TV Record, a decisão tomada na última reunião do Copom com Campos Neto à frente teria selado a alta futura dos juros, até mesmo após sua saída, que aconteceu em dezembro de 2024.
“Essa alta … foi contratada na última reunião da qual participou o Roberto Campos, em dezembro. É como se tivesse estabelecido uma contratação futura da taxa”, declarou Haddad.
Ele ressaltou que a posição adotada pelo atual presidente do BC, Gabriel Galípolo — nomeado por Lula em janeiro — seria apenas a continuidade do compromisso anterior, e advertiu que não se deve dar “cavalo de pau” na política monetária, sob risco de prejudicar a credibilidade do sistema.
Haddad reforçou que o atual patamar de juros é muito restritivo, especialmente frente às projeções de inflação que já caíram, apesar do atual cenário fiscal e de liquidação da demanda doméstica. Por isso, defende congelar gastos públicos e priorizar a sustentabilidade fiscal: “Quanto mais poupança fizermos, o Brasil tem chance de entrar num ciclo virtuoso”, afirmou.
Entretanto, a justificativa oficial do Copom para manter os juros em 15% difere da interpretação do ministro. Na ata da reunião de 18 de junho, os diretores do BC destacaram que a atividade econômica ainda resistente, a inflação acima da meta e a falta de política fiscal consistente demandam uma política monetária “significativamente contracionista por um período prolongado”.
Além disso, reportagens da Reuters e Bloomberg registram que os diretores explicaram que o ciclo de aumento de juros foi “rápido e firme”, e que agora é necessário manter a taxa para avaliar seus efeitos antes de qualquer nova alta ou corte.
A divergência entre o discurso de Haddad — que desloca a responsabilidade para Campos Neto — e o posicionamento técnico do BC, evidencia a tensão que envolve a política econômica atual. Enquanto o ministro evita envolver diretamente Galípolo, o BC ressalta que a decisão observou múltiplos fatores conjunturais.
Com a aproximação das eleições de 2026, o governo tenta consolidar um ajuste fiscal sem comprometer o crescimento, enquanto o mercado espera sinais de acomodação dos juros ainda neste ano. O tom firme do BC e a cautela de Haddad se contrapõem a um cenário econômico volátil — e à difícil tarefa de equilibrar a credibilidade monetária com o fôlego para impulsionar a economia.
