
Governo fala em “justiça climática” para justificar avanço da Petrobras na Margem Equatorial
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, parece que voltou atrás em seu discurso sobre a exploração de petróleo na Margem Equatorial, região que se estende próxima à foz do rio Amazonas.
Em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta segunda-feira (10), Marina afirmou que o país “vive contradições na transição energética” e defendeu o uso de parte do lucro do petróleo para financiar investimentos em fontes renováveis.
A fala marca uma reviravolta na fala de Marina, que sustentava até meses atrás, que se opunha à perfuração de poços na área e via na exploração um risco ambiental incompatível com os compromissos climáticos do Brasil.
Agora, o tom é outro e ao que tudo indica, a ministra tenta equilibrar discurso ecológico e pressão por autossuficiência energética.
“Você dificilmente vai encontrar um país que não esteja vivendo desafios e contradições na transição energética. […] É preciso usar parte do lucro do petróleo para investir em hidrogênio verde, energia eólica e solar. O Brasil está disposto a fazer isso pela justiça climática”, afirmou a ministra.
A mudança de Marina ocorre após o Ibama, órgão vinculado ao seu próprio ministério, autorizar em outubro a Petrobras a perfurar um poço exploratório no bloco FZA-M-059, localizado a cerca de 500 quilômetros da foz do Amazonas e 175 km da costa do Amapá.
A estatal, que durante o governo Lula vem reforçando seu papel como instrumento estratégico de política energética, afirma que o objetivo é coletar dados geológicos e avaliar o potencial de exploração comercial, negando qualquer início de produção neste momento.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), foi um dos principais articuladores para destravar a licença, em meio à resistência de setores ambientalistas e da própria equipe de Marina.
O Brasil, embora tenha uma das matrizes mais limpas do planeta, 45% renovável em energia total e 90% em eletricidade, ainda depende da receita do petróleo para financiar sua infraestrutura e manter equilíbrio fiscal.
A defesa de uma “Petrobras de energia”, feita tanto por Marina quanto por Lula, soa ambiciosa, mas ainda sem plano concreto de execução.
A estatal segue sendo uma empresa de petróleo e a exploração na Margem Equatorial reforça que o discurso ambientalista do governo continua subordinado à lógica de arrecadação e pragmatismo político.
Em outras palavras, a “justiça climática” de Marina cede espaço à realidade do caixa da União. E a transição energética, prometida como prioridade, parece ter se tornado mais um discurso de ocasião do que uma política efetiva de Estado.
