O pacote emergencial anunciado pelo governo federal nesta quarta-feira (13/8) para socorrer empresas afetadas pelo tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos gerou reações de cautela entre representantes do setor produtivo goiano. Embora reconheçam a importância de medidas para amenizar os impactos econômicos, lideranças da indústria e do comércio afirmam que crédito subsidiado não resolve os entraves estruturais que afetam a competitividade das empresas brasileiras.
Presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (Acieg), Rubens Filetti avalia que as medidas, embora necessárias, são insuficientes. “Linhas de crédito, por si só, não resolvem problemas estruturais. Endividar ainda mais as empresas não substitui a necessidade de um ambiente de negócios saudável, com previsibilidade, segurança jurídica e redução da carga tributária”, afirmou, ao Mais Goiás.
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Para a Acieg, o impacto do tarifaço sobre o agronegócio e outros setores exportadores deve ser enfrentado com ações permanentes, como a desoneração da folha de pagamentos, a simplificação tributária e a redução dos custos de energia por meio de incentivo à produção limpa e competitiva. A entidade também critica a atuação reativa do governo federal e cobra medidas para evitar novos choques no setor produtivo.
Crédito não chega para todos, diz Fecomércio-GO
A desconfiança sobre a efetividade do plano também foi expressa pelo presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Goiás (Fecomércio-GO), Marcelo Baiocchi. Apesar de considerar a iniciativa louvável, ele questionou se os recursos anunciados chegarão, de fato, aos pequenos empreendedores.
“O recurso para chegar na mão de quem precisa mesmo, que são os pequenos, normalmente passa pelas exigências das instituições financeiras, e não é todo empresário que está em uma instituição financeira, principalmente utilizando recursos públicos”, ponderou ao Mais Goiás.
Ele destaca, entretanto, que tem expectativa de ver soluções operacionais práticas dentro dos próximos dias. “Mas espero que a medida seja efetiva e chegue para quem necessita. Essa é a nossa expectativa, tá? Mas temos que aguardar a operacionalização disso, por enquanto é só no papel”, disse Baiocchi.
Plano Brasil Soberano
Lançado nesta quarta-feira (13), o chamado Plano Brasil Soberano prevê até R$ 30 bilhões em crédito para exportadores, com reformulação do Fundo de Garantia à Exportação (FGE), ampliação do Reintegra, prorrogação de prazos de tributos e incentivo à abertura de novos mercados. Pequenas e médias empresas poderão acessar os recursos por meio de fundos garantidores, com facilidades temporárias para venda de produtos não exportados ao setor público.
Apesar das boas intenções, representantes da indústria e do comércio afirmam que a operacionalização será decisiva. “É preciso ver o recurso chegar na ponta e não ficar travado em exigências bancárias que só grandes empresas conseguem cumprir”, afirmou um empresário ouvido pela reportagem.
Enquanto o Congresso se prepara para avaliar a medida provisória que institui o pacote, o setor produtivo segue pressionando por reformas estruturais que transcendam a lógica da emergência. Para as entidades goianas, socorro pontual não substitui previsibilidade, ambiente de negócios estável e eficiência na gestão pública.
