
“Ninguém desafia Trump como o presidente do Brasil”. A frase, usada como título em uma foto publicada pelo jornal The New York Times, resume o tom da mais recente entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao tradicional veículo norte-americano. Concedida em meio ao anúncio de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros feita por Donald Trump, a declaração simboliza a postura firme do petista, que disse não ter medo do ex-presidente dos Estados Unidos.
Durante a entrevista, Lula afirmou que o Brasil tentou negociar com os EUA por meio de ministros, mas que “ninguém quis conversar”. Ao contrário de outros líderes mundiais que evitam confronto direto com Trump, Lula decidiu enfrentar o republicano. “Talvez ele não saiba que, no Brasil, o Judiciário é independente”, declarou.
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Em sua primeira entrevista ao jornal nova-iorquino em 13 anos, Lula criticou a tentativa de interferência de Trump na política brasileira e garantiu que o país não se dobrará à pressão americana. “Não negociaremos como um país pequeno diante de um grande”, afirmou.
Veja as principais declarações de Lula ao The New York Times:
Vítimas da política – “Eu quero dizer a Trump que brasileiros e norte-americanos não merecem ser vítimas da política, se a razão para o presidente Trump estar impondo essa tarifa no Brasil for por causa do caso contra o ex-presidente Bolsonaro.”
Civilidade – “Eu espero que a civilidade retorne à relação Brasil-Estados Unidos. O tom da carta [de Trump] é de alguém que definitivamente não quer conversar.”
Sem medo – “Não tem razão para ter medo. Eu estou preocupado, obviamente, porque nós temos interesses econômicos, políticos e tecnológicos. Mas em nenhum momento o Brasil vai negociar como se fosse um país pequeno contra um país grande. O Brasil vai negociar como um país soberano.”
Meio-termo – “Na política entre dois países, a vontade de nenhum deve prevalecer. Nós sempre precisamos encontrar o meio-termo. E isso não é conseguido estufando o peito e prometendo coisas que não podemos entregar, nem abaixando a cabeça e simplesmente dizendo ‘amém’ para tudo que os Estados Unidos quiserem.”
Briga política – “Se Trump quer ter uma briga política, vamos tratar como uma briga política. Se ele quer conversar sobre o comércio, vamos sentar e discutir o comércio. Mas nós não podemos misturar as coisas.”
Melhor que Bolsonaro – “Honestamente, não sei o que Trump ouviu sobre mim. Mas, se me conhecesse, saberia que sou 20 vezes melhor [que Bolsonaro].”
Tem quem queira – “Se os Estados Unidos não querem comprar algo de nós, nós vamos procurar alguém que queira.”
Sem Guerra Fria – “Temos uma relação comercial extraordinária com a China. Se os Estados Unidos e a China querem uma Guerra Fria, nós não vamos aceitar. Não tenho preferência. Tenho interesse em vender para quem quiser comprar, para quem pagar mais.”
Ideologia de Trump – “Nem meu pior inimigo pode dizer que Lula não gosta de negociar. Eu aprendi política negociando. Não tenho nada contra a ideologia de Trump. O Trump é um problema dos norte-americanos. Eles votaram nele. Fim de papo. Eu não vou questionar o direito soberano do povo norte-americano, porque eu não o quero questionando o meu.”
Sem subserviência – “Claro que estamos tratando o tema [tarifa] com seriedade, mas seriedade não requer subserviência. Eu trato todos com muito respeito, mas quero ser tratado com respeito também.”
Poder dos EUA – “Nós sabemos do poder econômico dos Estados Unidos, reconhecemos o poder militar e o tamanho tecnológico deles. Mas isso não nos assusta, apenas nos deixa preocupados.”
Democracia sagrada – “O Estado democrático de Direito é uma coisa sagrada para nós, porque já vivemos ditaduras e não queremos mais isso.”
Nada de ultimato – “Quando há uma divergência comercial ou política, você pega o telefone, marca uma reunião e tenta resolver. O que você não faz é taxar e dar um ultimato.”
Fim do ganha-ganha – “Vamos sair de uma relação diplomática de 201 anos de ganha-ganha para uma relação política de perde-perde.”
Ninguém quer conversa – “O que está impedindo [o diálogo] é que ninguém quer conversar. Todo mundo sabe que pedi para que um contato fosse feito.”
Sanções ao Judiciário – “Se o que você está me contando é verdade, é mais sério do que eu imaginava. A Suprema Corte de um país tem que ser respeitada não só pelo seu próprio país, mas por todo o mundo.”
