
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) insiste em repetir que o Brasil precisa se libertar da “subordinação ao Norte” e reduzir a dependência do dólar no comércio exterior. O discurso, que ganhou força após o presidente norte-americano Donald Trump anunciar, em 9 de julho, tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, soa firme e nacionalista. Mas, na prática, beira a retórica vazia e pode custar caro ao país.
Enquanto Lula fala em criar uma moeda própria dos Brics ou priorizar as moedas locais nas trocas internacionais, os números expõem o abismo entre o que se promete e o que se faz: em 2024, US$ 323,2 bilhões das exportações brasileiras e US$ 211 bilhões das importações foram realizadas em dólar, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
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Essa realidade não é mera coincidência. O dólar não domina por imposição política, mas por credibilidade, liquidez e segurança que nenhuma moeda dos Brics — bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — consegue oferecer. Ao forçar uma agenda de desdolarização sem lastro, Lula coloca o comércio exterior brasileiro em risco, sobretudo num momento de tensão com os EUA, que seguem sendo um dos principais destinos dos nossos produtos.
Mais do que reduzir a dependência, a retórica do Brics pode acabar isolando o Brasil das maiores economias ocidentais, fundamentais para investimentos e escoamento da produção nacional. É sintomático que, mesmo após o “tarifaço” de Trump, o dólar continue sendo a moeda preferida do próprio governo para suas operações comerciais.
O sonho de uma moeda Brics é, por ora, só isso: um sonho. Enquanto a diplomacia lulista se esforça para agradar parceiros do bloco — alguns deles com agendas hostis ao Ocidente —, o agronegócio e a indústria brasileiros continuam operando sob as regras do mercado global: em dólar e com forte dependência dos EUA e da União Europeia.
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Se Lula quer realmente proteger o comércio exterior, precisa parar de fazer política com bandeiras ideológicas e enfrentar a dura realidade: sem dólar, o Brasil não negocia. E sem pragmatismo, perde ainda mais.
