
Em resposta ao duro artigo publicado pela revista britânica The Economist, o governo Lula decidiu dobrar a aposta: enviou uma carta oficial assinada pelo chanceler Mauro Vieira em defesa da atuação internacional do presidente, mas sem corrigir o tom agressivo que causou o desgaste diplomático inicial. O texto tenta justificar o isolamento crescente do Brasil no cenário ocidental, mas termina reiterando a retórica que gerou as críticas.
A polêmica começou após a publicação de um editorial da Economist no domingo (29), que acusou o governo brasileiro de se alinhar com regimes autoritários — China e Rússia — e de se tornar “cada vez mais hostil ao Ocidente”. A revista citou ainda a queda de popularidade de Lula e a postura diplomática que chamou de “linguagem agressiva” diante dos ataques norte-americanos ao Irã, condenados “com veemência” pelo Itamaraty em nota oficial de 22 de junho.
Na carta de resposta, o chanceler afirma que o Brasil “não tem inimigos” e é “um coerente defensor do direito internacional”. Também cita propostas do presidente, como a taxação de bilionários e a criação de uma aliança global contra a fome — segundo Mauro Vieira, medidas que “terão incomodado muitos oligarcas”, uma tentativa pouco sutil de rebater críticas ao custo de reforçar o antagonismo com os países ricos.
O governo, no entanto, ignora o ponto central da crítica: a crescente desconexão do Brasil com seus parceiros históricos no Ocidente e a preferência declarada por regimes que violam abertamente direitos humanos e princípios democráticos. Ao se vitimizar e lançar acusações genéricas contra elites internacionais, Lula segue aprofundando o isolamento que a própria Economist denunciou.
A resposta oficial, longe de atenuar o desgaste, parece apenas confirmar a crítica: o Brasil, sob Lula, está mais preocupado em sinalizar ideologia do que construir pontes. No cenário internacional, essa escolha tem custo — em influência, em acordos e em relevância.
